saudade boa é aquela que podemos matar... bip-bip
apita o celular de Justine. ela enfia a mão na bolsa em forma de vinil, tira o aparelho e olha o q é. um sorriso tímido de canto de boca - q só ela sabe dar - aparece no seu rosto comprido e um inevitável e constragedor brilho reluz nos seus olhos. antes mesmo q ela leia a msg q chegou o celular apita e apita de novo. ela já sabe quem é. ele tem sérios problemas em sintetizar as coisas q quer dizer. mas pra q ser objetivo qdo queremos falar com quem a gente gosta? e sim, são 3 msgs. e dele. claro. ela já sabia. já até esperava. tava até ansiosa. sabia tb q ele deve ter demorado 3 dias pra digitar tdo isso. ele tem problemas com o teclado. diz q ele, o teclado, não gosta dele. vive escondendo as letrinhas. discretamente - como se fosse possível - ela lê cada uma. elas estão fora de ordem e não, não foi intencional. ele tb tem sérios problemas com a organização. mas não é nenhum enigma, o q ele quer dizer é bem fácil de ser assimilado e cora a pela alva da moça. olhares curiosos e atentos rodeiam, cercam, se esticam, cochichos e risos maliciosos e alguns até invejosos inundam o ambiente. o sorriso q antes enfeitava só o canto esquerdo da boca macia e vermelha agora toma conta do rosto inteiro deixando-o mais luminoso. depois daquele desentendimento infantil de ontem, ela ainda imaginava se o bip bip ia acontecer.
lá está ela, na mesa do bar, com os seus melhores amigos, contando as mesma histórias e rindo das mesmas piadas, falando coisas q dariam um curta, um livro, um conto, se alguém fosse esperto o bastante para anotá-las - pq vc sabe, idéias de botequim se dissipam no ar como fumaça de cigarro. este cenário, por alguns instantes fica em segundo plano. perde a atenção da moça de cuturno para uma pequena tela de cristal líquido cinzenta, q agora, está iluminada por uma luz esverdeada e decorada por letrinhas. letrinhas q são consumidas vorazmente pelos belos olhos de Justine, q correm da esquerda pra direita, de cima para baixo:
ah ó, me deu vontade de dizer q eu gosto de vc. vergonha nenhuma de admitir q me deu 1 PUTA saudade. e eu nem te odeio por isso. é só pra vc saber mesmo. e a culpa é toda sua. desculpa pelo hiperbolismo tosco e sujo pra definir a medida da saudade. bjo june.
sem assinatura, +732, veio da web. ele tá na internet. ele tá em casa. ele tá com saudade. claro q a msg é dele. quem mais me chama de June? ele devia fazer isso mais vezes. todos os dias. várias vezes ao dia.
e faz. sempre qdo a saudade aperta. piegas, mas é assim mesmo. ele odeia saudade. saudade boa pra ele é aquela q ele pode matar. e ele pode. mas talvez seja melhor assim.
- aposto q é do fulano. uma voz de algum canto da mesa interrompe.
- é, é do fulano. com certeza. e se tão ficando durante a semana, já é namoro.
ela se irrita. ela é reservada. e se for namoro? não é. mas e daí? despedida geral, levanta e vai embora. já tinha um compromisso, ia... ah, não é da sua conta. mas antes, ela vai encontrar um novo jeito de dizer alô:
- oi?
- vc sempre atende telefone dizendo oi?
- nunca tinha reparado isso, é mesmo?
- vc não diz "alô?", pq vc já sabe quem é, é?
(risos)
- pode ser, vc sabe q eu posso contar nos dedos qtas...
- pessoas tem esse número - ela completa.
(risos)
- é. mas vc tb fala ei ou oi...
- eu?
ele tá no quarto, o telefone é o da internet. no som toca light & day do polyphonic spree. aposto q ele viu "brilho eterno" de novo. e aposto q desta vez, com os comentários do diretor. e ainda, aposto q ele vai contar cada detalhe com a empolgação de uma criança e depois dizer: vc tem q ver!
- é. vc...
- não, eu digo oi qdo é no celular. no telefone de casa eu...
- aí faz sentido, no celular vc sabe quem é... vc tá jói...
- q msg fofa foi essa? - ela interrompe graciosamente.
- ah, é simples, eu tô com saudade de vc.
- eu tb estou.
"eu tb estou". será q toda estudante de jornalismo é assim? ela não fala tô, cê, odeia certas gírias e às vezes diz palavras q, só o Aurélio. às vezes, nem ele.
- daí, a msg fofa. e c sabe, eu odeio...
- saudade...
- pq...
- saudade boa é a q vc pode matar. mas vc pode uai...
- eu sei.
- se divertiu ontem?
- ah, foi divertido, ninguém foi, mas tava legal.
"tava". já ele... palavra sofre pra sair inteira da boca dele.
- vc melhorou?
- tô só com as pernas doendo, mas já já passa.
ela dá sinal para o ônibus. se despede e promete ligar mais tarde.
- so, bye June.
isso. June. ele fez do nome dela uma pequena equação matemática. é matemática mas não tem lógica, ela é June e June não tem lógica. A June. Justine. Justine + Justine = June. o começo com o fim. os dois extremos.
ele deita na cama e relaxa.
na dúvida, faça contato - pensa.
a mensagem fofa rendeu um "eu te ligo mais tarde". na verdade, rendeu bem mais q isso.
é a velha história do ligo ou não ligo. e isso o faz lembrar de uma música. ele tem música pra tudo. essa é uma daquelas canções q é capaz de resumir e condensar tantos sentimentos e idéias e experiências em uma estrofe ou mesmo em um riff bem tocado q meio mundo se identifica. banda do sul. "mesmo que mude". fala sobre telefone. tb. mas não tem nada a ver com gram bell. tem a ver com aquele comichão q é a saudade, q guia nossos olhos e nossa atenção pra um objeto:
o telefone.
ligo ou não ligo. evitar o telefone. digital ou analógico, forma de mickey mouse ou de consolo, é estranho como a saudade está intimamente ligada a figura do telefone. "tears on the pillow, eyes on the phone", já dizia brett anderson do falecido suede em uma das suas belas canções. poxa vida, e antes eram as cartas. mas, meu deus, se ele vivesse naquela época morreria de ansiedade. "tears on the pillow, eyes on the mailbox"? imagina! se ela demora 5 minutos pra responder uma msg de celular ou telefonema ele quase explode! imagina uma carta... imediatamente pensa em uma campanha pela canonização de gram bell e do cara q tornou a telefonia móvel e o sms possível.
mas não hoje, tô com muito sono...
so... bye june, i'm going to the moon
i hope you make it soon
cause i'm waiting on this moon...
Felix adormece. waiting for June... on the moon.
Aplausos para o meu amigo cuvudo!
By
Blasen